Wednesday 18 August, 2004

Como o ser humano abandonou a Mãe Natureza e porque ele se vê obrigado a retornar ao lugar de onde nunca saiu: A Unidade Sagrada*

Artigo de Evandro Vieira Ouriques, Dr.

[Este artigo foi escrito a partir de seu livro (dirigido ao público de diálogo inter-religioso leigo em assuntos acadêmicos),
Yoga, Tradição e Ciência: um encontro revelador para os dias de hoje, publicado pelo NETCCON.ECO.UFRJ em 2001]

Precisamos compreender que a origem de toda a crise humana é apenas uma: o abandono da Mãe Natureza, por volta de 4000 a 3500 a. C.. Naquele momento, a sociedade humana teve a pacífica maneira matrifocal na qual vivia destruída por hordas bárbaras de invasores que adoravam deuses guerreiros. Eles destronaram as antigas deusas, rebaixando-as a esposas, filhas e consortes e implantaram, assim, uma nova concepção de mundo dominada pelos homens.

Este é origem da crise: o desprezo pelo Princípio Feminino. O abandono do equilíbrio entre Shiva e Shakti; entre Pai e Mãe; entre Céu e Terra; entre Yin e Yang; entre Princípio Feminino e Princípio Masculino. É por isto que a superação da dor da Humanidade depende de nosso empenho em recuperarmos esta Unidade Sagrada, da qual a unidade espiritual das religiões é espelho.

É disto que vozes minoritárias sempre falaram no Ocidente, ecoando suas próprias tradições espirituais. Mas apenas com a instalação da crise, a partir do final do século XIX, estas vozes passaram a ser mais e mais ouvidas, ecoando também, então, as tradições espirituais do Oriente. Hoje chegamos ao limite. Dez anos após a ECO-92 estamos construíndo a ECO-Espiritual que é a Assembléia Global da URI e a Aldeia Sagrada, pois para resolver a crise ecológica, em verdade, precisamos resolver a verdadeira questão que é o resgaste da Unidade.

Não é à toa que todas as avaliações feitas dos compromissos firmados na ECO-92 em relação ao desenvolvimento auto-sustentável são muito pouco animadores (1). A consciência ainda deficiente do ser humano insiste na destruição. Se abandonamos nossa Mãe como não brigarmos -até a morte- com nossos irmãos?

Para que este quadro seja revertido precisamos mais do que ouvir, no sentido estrito, a Unidade Sagrada, da qual fala de forma privilegiada, por exemplo, a Voz Indígena (2). Precisamos por a Unidade Sagrada imediatamente em prática. Vigiar, de verdade, todo o nosso comportamento para que a nossa ação possa ser testemunha viva Dela. É disto que precisamos para revelar a Paz no mundo.

A ciência mostra exatamente quando o patriarcado e a dominação masculina substituíram a ordem social mais antiga e mais harmoniosa (3). Muito mais do que mulheres em cargos de autoridade, o matriarcado significava ter o centro ético da organização psicológica e social fundado em valores culturais muito diferentes. Enquanto o patriarcado vive da imposição da lei, de uma ordem que se quer impor de for a para dentro, o matriarcado estabelece costumes, hábitos que vêm de dentro dos indíviduos para fora. Ou sejam, auto-organizatórios, porque lembram da Origem. Enquanto o patriarcado estabelece o poder militar, o matriarcado estabelece a autoridade espiritual, a autoridade ética. Enquanto o patriarcado encoraja o valor, a força e a perícia do guerreiro individual (endeusando a vitória e desprezando a derrota), a estrutura matriarcal estimula a coesão do coletivo. Valoriza não o heroísmo egóico mas a grandeza.

Realização Divina na Terra, Divina Terra

No matriarcado, a natureza e a fertilidade eram o coracão, a alma da existência. Toda a vida humana era impregnada por este diapasão. A dimensão sexual, por exemplo, era vivenciada como poder regenerativo, dádiva ou bênção do divino. A natureza sexual era inseparável da atitude espiritual. O ato sexual era oferecido à deusa, reverenciada pelo amor e pela paixão. Tratava-se de ato honroso e respeitoso, que agradava tanto à dimensão divina quanto a dimensão mortal, como vivência coesa e indistinta entre espírito e matéria. Realização divina na Terra. Tratava-se, assim, sem dúvida, de uma sociedade fundada na inseparabilidade. Na união inclusiva dos opostos complementares. E não na diáspora trágica em que vivemos hoje, em que exponenciamos sermos os perseguidores de nós mesmos, numa roda-de-fogo torturante e destrutiva.

Quando a Mãe Natureza começou a ser tratada como inimiga, separada de Mim, tratada como o Outro e não mais como o Mesmo, como ela e não mais como eu mesmo, iniciou-se a operação de esquecimento do Ser, assumindo-se a opção de que o ser humano é algo diferente dela. Algo que não pertence a ela, e que destina-se a dominá-la, subjugá-la, utilizá-la para seus próprios (do ego) interesses.

Constrói-se assim uma cultura auto-referenciada, antropocêntrica, fálica e consequentemente bélica, centrada na dominação e no uso exploratório de tudo aquilo que é nutriz, delicado, sensível, misterioso, incontrolável. É por isto que sexo só pode ser pornográfico e dinheiro só pode ser obtido por meios escusos. Todo o caráter prazeiroso e próspero da Mãe Terra, que a tudo criou, perdeu-se

Separado, em sua fantasia, de sua Mãe, o ser humano optou por uma espécie de jardim de infância retrógado, no qual mantém-se, inapropriadamente, na inconsciência da realidade de sua própria existência. Temos então esta situação paradoxal: o ser humano rejeita sua essência, rejeita Brahman, rejeita todos os nomes do Inominável, rejeita a Consciência Cósmica; e como não pode fazer isto de fato, mas apenas de maneira fantasiosa, continua a necessitar dela como necessita do ar. É daí que nasce, por exemplo, a situação patética dos engarrafamentos nas vias de saída de todas as cidades do mundo às vésperas de feriados e finais de semana. Trata-se da nostalgia dramática em relação à natureza. Da mesma forma que a obsessão sexual, quando o corpo do outro é a única presença da Natureza em meio ao estéril ambiente construído apenas com a razão.

A Fantasia da Separatividade

Como mostra Pierre Weil, "toda a história da humanidade posterior a esta queda na fantasia da separatividade, consiste em uma luta silenciosa entre duas forças: as do desejo ligado a este fantasma que leva à Neurose do Paraíso Perdido e a da nostalgia inconsciente do estado de Sabedoria primordial da Consciência Cósmica não-dual. Todos os esforços dos grandes mestres de Israel e da Humanidade, de Moisés a Cristo, passando por Salomão, os Profetas, os Essênios, e os Terapeutas descritos por Philon de Alexandria, dos Rishis do Ganges aos Budas do Tibet, das Escolas da Tradição a Krishnamurti, Sri Aurobindo, Teilhard de Chardin, René Guénon, Gurdjieff, entre outros, assim como a psicoterapia em suas linhas mais avançadas como as de Jung, Maslow e Assagioli, destinam-se a restabelecer no homem a vivência da inseparabilidade da Consciência Cósmica" (4).

Prosseguindo com Weil, "Freud, ao mostrar a existência de um inconsciente, no qual se encontram reprimidas certas pulsões instintivas fundamentais, abriu a porta para uma melhor compreensão daquilo que foi reprimido na história da humanidade. Como ele próprio diz "...a gênese das neuroses nos aparece sob a seguinte fórmula simples: o "ego" tentou abafar certas partes do "id" de uma maneira imprópria, ele malogrou e o "id" se vinga (...) sob a forma da reação patológica; é exatamente isso que Maslow nos demonstra. Neste caso, a fonte do maior sofrimento da humanidade é a repressão de tudo aquilo que estes valores intrínsecos representam: a Árvore da Vida..." (5), ou seja, a sabedoria primordial.

É o mesmo que nos diz a terceira carta do tarô, a Terceira Estação: A Imperatriz. Nas palavras de Rita Lee: "Estou no colo da Mãe Natureza. Ela toma conta da minha cabeça". É a perda deste comando que fez o mundo perder a cabeça. Nesta carta encontramos Deméter, a deusa grega da terra cultivada, em seu florido jardim, que sucedeu à deusa primordial Gaia, a Mãe Terra, uma vez que com a agricultura -o jardim florido- a Mãe Natureza começou a ter o seu papel reduzido, até ocupar apenas o lugar de matéria prima, recursos a serem utilizados para o objetivo da obtenção de lucro a qualquer custo. Segundo a cosmogonia grega, Gaia, a Terra, através de geração espontânea, dá à luz a Urano, o Céu, que é seu filho e seu amante. Das montanhas, olhando fixamente para baixo, para ela, ele fez cair a chuva fértil sobre as secretas fendas de sua mãe -sagrada eroticidade- e ela produziu grama, flores e árvores, e criou os pássaros e as feras.

Rejeitando a Mãe

As evidências recentes da arqueologia, em especial as descobertas na Europa meridional e na Turquia, comprovam que a humanidade viveu durante milhares de anos em um estado de absoluta integração com a natureza, de onde extraía o seu alimento e proteção (6). Esses primeiros habitantes do nosso planeta viviam de acordo com as leis e os ritmos da natureza e reverenciavam essa força maior através do culto à deusa Mãe. Eram as sociedades matriarcais, estruturadas em um modelo econômico de propriedade solidária das riquezas produtivas e divisão igualitária dos bens de consumo. O trabalho era para o grupo -enquanto máxima expressão do indivíduo- uma vez que o que você faz não é para você mas para os outros, para o coletivo. Karma Yoga. Nelas, os mais velhos eram respeitados exatamente por serem os depositários, os livros-vivos nos quais estava gravada a Tradição: a experienciação da vida.

Não existiam a propriedade privada, nem a neurose do ter substituindo o ser, como Erich Fromm já alertava há décadas e décadas atrás; nem as guerras de conquista, nem a dominação do homem pelo homem -aquisições culturais mais recentes da nossa história. Essas primeiras sociedades agrícolas viviam em colônias confortáveis e usualmente não-fortificadas. Produziam uma cerâmica muito elaborada. Elas eram basicamente pacíficas e não existia qualquer sistema de estratificação social.

O homem vivia em uma relação de parceria e cooperação com a mulher. As mulheres geralmente permaneciam nas aldeias recolhendo frutos e grãos e cuidando das crianças da tribo, enquanto os homens saíam em bando para caçar. Com o passar do tempo, as mulheres começaram a perceber que as sementes que caíam próximo às suas habitações faziam surgir novos pés de frutos. Estava descoberto o cultivo da agricultura, que, segundo a mitologia grega, foi revelada à mulher pela deusa do trigo, Deméter, sabemos, a Imperatriz.

As tribos de então eram predominantemente nômades e tornaram-se, por volta de 9000 a.C, sedentárias passando a ter seu sustento através da colheita agrícola. Nesses tempos eram realizados intensos e complexos rituais religiosos para garantir a fertilidade da mulher e da terra, intimamente correlacionadas.

Esses rituais geralmente aconteciam na lua cheia -apenas uma das quatro fases cíclicas da lua, como a menstruação; ao contrário da fixidez do sol, masculino, sempre cheio. É importante sublinhar, e a medicina ayurvédica tem isso como central, que se o Sol é mais constante, atravessando um ciclo de energia a cada 365 1/4 dias, e nunca estando ausente durante o dia, a Lua às vezes está cheia e brilhante e em certos momentos completamente ausente. É ela quem governa, isto a ciência reconhece há muito tempo, as marés dos oceanos, e governa também os oceanos cósmicos, estes oceanos que são as águas da existência na tradição hindu.

O Feminino Come o Masculino

É muitíssimo importante ressaltar o princípio, registrado por Joseph Campbell, "que ela (a Lua) engole o Sol no Oeste e volta a dar-lhe nascimento no Leste. E o sol atravessa o seu corpo durante a noite" (7). A metáfora tântrica é muito clara. No amor físico transcendental entre o princípio masculino e o princípio feminino é o feminino que engole, que é ativo. Como no amor tântrico, em que a mulher fica por cima, come o masculino -ao contrário da idéia comum do homem "comer" a mulher. O Sol, masculino só renasce após percorrer, por dentro, durante toda a noite, o corpo feminino. O masculino é engolido pelo que não controla, e renasce exatamente por se deixar ser engolido. Renasce por não temer o insondável. Não temer a morte.

Olhe agora as pontas de seus dedos. Veja suas impressões digitais. Não existem outras iguais em todo o mundo. De onde vêm estas perfeitas espirais, presentes nas pontas de nossos dedos, presentes nas intocáveis galáxias de incalculável grandeza? Mistério. Como a espiral do DNA. Como a espiral de Kundaliní subindo por Sushuma, unindo as polaridades de Ida e Pingala. Como a da consciência em êxtase xamânico; em estado não-comum de consciência. Diga para você mesmo, sinceramente: "el camino no se hace al caminar"? Você sabia ontem o que você seria hoje? Não é uma surpresa para nós mesmos o que somos? Não foi assim que Indiana Jones, pressionado pelo fato de seu pai estar à morte, ao pisar no abismo viu surgir sob os seus pés a ponte que até então era invisível?

Nos rituais da lua cheia -até hoje os ciganos fazem isto, como a comunidade religiosa Trybo Cósmica o faz há 23 anos ininterruptos no Rio de Janeiro sob a proteção de Seu Tranca Rua - as mulheres gozavam do status de pontífices espirituais do poder doador e mantenedor da vida da grande Deusa Mãe, pois dramatizavam concretamente em seus próprios corpos os mistérios da natureza: gestação e geração.

É importante lembrar que os homens de então não tinham consciência de seu papel biológico no processo de concepção, e atribuíam a procriação aos ciclos rítmicos da natureza refletidos nas fases da lua.

Dentro de um processo complexo, diversas variáveis atuaram no sentido da subjugação do princípio feminino e consequentemente das mulheres: o acúmulo da produção agrícola excedente permitiu que alguns grupos tornassem-se mais poderosos econômica e politicamente do que outros; o processo de fixação do homem à terra facilitou a gradativa percepção do seu papel no processo da procriação, o que gerou a reivindicação do direito de saber quem eram os "seus" filhos legítimos, a quem deixariam a sua herança material e espiritual, até então transmitida pela via matriarcal; e o hábito do pastoreio permitiu lidar com o sangue, abrindo caminho para a guerra.

A mulher, e claro, a Mãe Natureza, passou assim a ser propriedade do homem. Lembre dos bárbaros, tomando tudo e todos, a qualquer custo, para si. Sem qualquer critério. Apenas o da vontade de tomar para o próprio ego. Este é o clima. É a Queda, a Expulsão do Paraíso, o fim da Idade de Ouro. Os grupos econômicos mais poderosos, militarmente equipados, dedicados a expandir seus domínios sobre todos os que podem, anexam as suas terras e propriedades, escravizam seus habitantes.

Isto está cientificamente comprovado, tendo ocorrido tanto na Europa como no Oriente Próximo e na Índia, onde as antigas sociedades agrícolas passaram a ser dominadas por cidades-estado e por impérios guerreiros. Violentos deuses celestes tornaram-se predominantes como vingativos emissários de trovões, inundações, secas e inanições. Qualquer semelhança com os dias atuais não é mera coincidência...: 1. a revista Veja já teve como manchete de capa "A Vingança da Natureza", atribuindo à Mãe Terra uma característica que é potencialmente do humano; 2. e filme Pearl Harbor reforça os papéis da mulher como uma idiota ou uma desesperada por homem e o do homem como um débil que coloca todos os seus sonhos a serviço da máquina de guerra sem fazer uma pergunta que seja.

É muito importante compreender a dificuldade do ser humano em lidar com a ambiguidade da Mãe Natureza, pois ela é, ao mesmo tempo, bela, fértil, amorosa, nutriz, benevolente, generosa, mas é também selvagem, destrutiva, desordenada, caótica e mortal. Isto faz com o que o ser humano pareça estar ainda em sua juventude -parágrafos atrás falava de jardim de infância- magoado com o que considera a traição que sua Mãe lhe fez ao lhe dizer o não dos limites. A Mãe enquanto Hécate, Nêmesis e Kali (10) ainda não foi bem compreendida pelo ser humano, a não ser na essência das tradições espirituais e na ciência de ponta contemporânea. O Sol ser engolido pela Lua inconstante e só então poder renascer -o mistério da entrega à Mãe Divina- ainda é muito difícil para o homem. É compreensível.

A Profanação do Mundo

A subjugação da Natureza é a face da externa do esforço interno de esquecer o Ser, deslocando o eixo de unificação psicológica para o ego. Para justificar isto, o aspecto feminino da divindade é relegado a uma posição inferior nas religiões. Nas histórias babilônicas sobre a criação, a deusa primordial Tiamat era o vazio sem forma, o útero negro e profundo de onde nasceu o universo; por si mesma, ela deu nascimento ao mundo. O deus Marduk foi, originalmente, seu filho. Mas depois tornou-se o deus criador, matando Tiamat, que passara a ser representada como o dragão (vejam bem) do caos. Marduk esmagou-lhe o crânio (a inteligência do feminino), dividiu seu corpo como se fosse uma ostra, e os ventos, a ele obedientes, varreram-lhe o sangue. Mas só dividindo-a em duas que ele conseguiu criar o firmamento do céu e o alicerce da terra (11).

Esta mesma dependência em relação aquela que se quer subjugada está na tradição cristã, quando o Gênesis mostra que Deus, como Marduk, precisou da mãe primordial para dividí-la e criar o cosmos, separando a luz das trevas, o dia da noite, as águas superiores das inferiores, os céus da terra e a terra seca dos mares. E mesmo quando Ele se voltou para a criação das plantas, dos animais terrestres e das águas, criaturas do mar e pássaros, ele precisou dela que então, por sua ordem, os criou.

A criação é, assim, no panteão masculino, uma atividade semelhante a da comunicação moderna, quando não temos contato direto com a realidade, que nos chega mediada pelos meios de comunicação, especialmente hoje, com as novas tecnologias da informação. Em terminologia teológica, este não é um modo direto, mas "mediato" de criação.

A Mãe Terra foi assim mortalmente atacada, tendo os seus símbolos -a mulher também- satanizados, encarnação do mal. As feiticeiras que o digam. Natureza e espiritualidade foram cindidos de forma abissal, primeiro pelas religiões patriarcais, e por fim pela última destas religiões, a ciência tecnomecanicista.

A reforma protestante no século XVI, com a supressão do culto à Virgem e a dessacralização do mundo natural foi decisiva neste processo. O homem passou ali a ser o único ser racional consciente em um mundo inanimado, a fonte de todas as deusas e deuses. O humanismo tornava-se uma religião. A negação do sagrado acabou por voltar-se contra o próprio homem. Porque apenas ele seria sagrado? Ele é apenas uma espécie a mais. A pretensa sacralidade da tecnologia arraigou-se na revolução científica do século XVII, germinada do fermento da Renascença e da Reforma: foi a destruição das restrições tradicionais ao conhecimento e o poder humanos. Ao saquear, violar, massacrar, infectar, escravizar, desalojar e destruir cultural e espiritualmente as populações do hoje México, Cortez, em carta ao rei da Espanha, que o pagou para esta missão, disse que seus companheiros não "estavam muito contentes com [as novas regras impostas pela Espanha] em particular com aquelas que os obrigavam criar raízes na terra; pois todos eles, ou a maioria deles, pretendiam lidar com essas terras como tinham feito com as primeiras ilhas que povoaram, a saber, exaurí-las, destruí-las e depois abandoná-las". Qualquer semelhança com o que se faz com as mulheres...

A Ganância Material

No século XVII a natureza morreu culturalmente tornando-se nada mais do que matéria inanimada em movimento: um sistema mecânico e controlado de maneira sempre igual, vale dizer sem surpresas, não mais pela Mãe, mas pelo Pai, Deus, agora no papel de engenheiro todo-poderoso. Como a natureza "funcionava" mecanicamente, aos poucos a própria figura de Deus se tornou desnecessária para a natureza, e no final do século XVIII ele desapareceu da visão científica do mundo, abrindo caminho à aceleração do ateísmo, que se desenvolvia aceleradamente.

Foi através destas operações paulatinas no campo simbólico que Mammon, o demônio da ganância comercial no Novo Testamento, passou a dominar o mundo que estava, então, profanado. É uma corrida movida pela força. Recordo-me que nos anos 70, no Rio de Janeiro, o famoso homeopata Dr. Bello distribuia um cartão em formato de coração, bordas e letras em vermelho dizendo: "Tudo é força mas só Deus é poder". Levei anos para compreender isto. É compreensível a confusão entre força e poder...

A revolução científica do século XVII ocorreu em um clima de pensamento permeado pela alquimia, pela magia, pelo misticismo e por um medo muito difundido da feitiçaria. A partir do século XVI ocorreu um crescente interesse por poderes mágicos, inclusive com a revitalização da tradição hermética. A célebre figura literária do Doutor Fausto resume esta busca pelo poder mágico e a venda da alma ao diabo em troca do poder. Fausto antecipou o nascimento da ciência mecanicista em quase um século, ao ser mago e incorporar ao mesmo tempo o desejo de possuir conhecimentos e poderes ilimitados. Ele foi tema de dezenas de peças literárias entre dramaturgia teatral, poemas, romances, etc., nos quais a crítica a este desejo estava presente refletindo a instabilidade da consciência humana naquela época, ainda com uma certa dimensão do sagrado preservada, e atravessou séculos, sendo que no século XIX ele já não era mais condenado por este desejo. Ao contrário o desejo pelo poder passou a ser considerado como bom, e não mau.

Fausto, Frankenstein, Bacon e o Desejo do Desejo

O Fausto em Goethe (1808) é isso: quando esgotado o prazo do contrato com o diabo, Fausto não seria enviado ao inferno conforme o contrato desde que ele não se cansasse jamais de sua busca sem fim pelo poder. A condição para não ir para o inferno é que ele jamais deixasse de permanecer insatisfeito. Exatamente o desejo do desejo.

Na mesma linha de Fausto está o personagem Dr. Frankenstein, que também é impelido pelo desejo de possuir o poder divino, aliás, como os atuais biogeneticistas, e por isto é destruído. Como Frankenstein, criamos muitos monstros que estão para nos destruir. O mais terrível artefato tecnológico humano, a bomba de nitrogênio, que libera energia semelhante a do sol, é detonada usando como espoleta a fissão de um dos átomos mais pesados, o plutônio, assim chamado em homenagem ao deus do mundo subterrâneo, ou seja, o deus dos infernos. A bomba de nitrogênio, Sheldrake ressalta também isto muito bem, é um dispositivo de transmutação digno de seus ancestrais alquímicos, baseado no casamento entre o sol (nitrogênio) e a terra (plutônio).

Neste processo de incorporação do conceito de que a natureza não é viva, é muito importante o papel desempenhado por Francis Bacon, no início do século XVII, que foi advogado por instrução e profissão, o que o capacitou a ser Lord Chancellor -quem preside a Câmara dos Lordes- a maior autoridade da Inglaterra. Bacon estava consciente das proibições existentes em sua época em relação à ambição desmedida e ao medo, culpa e sentido de mal tradicionalmente associados a este desejo de poder ilimitado sobre o universo. Foi exatamente ele quem desatanizou esta atitude. Fez isto através de um argumento simples: o domínio sobre a natureza estava garantido na Bíblia, quando Deus deu a Adão o poder de nomear as criaturas, o que foi feito antes do nascimento de Eva. Assim Bacon fez parecer que o domínio tecnológico da natureza era apenas a recuperação de um poder já dado por Deus e não algo novo, produto da ciência.

Ao mesmo tempo, Bacon elaborou o argumento -Sheldrake chega a sugerir que talvez ele tenha feito isto apenas como um sagaz argumento de advogado- de que o conhecimento inocente da natureza -a atividade da ciência, que assim estaria além do bem e do mal- nada tem a ver com o conhecimento moral da vida, que é assunto para, nas palavras de Bacon, ser "exercido pela sadia razão e pela verdadeira religião". Para ele a ciência era "masculina por nascimento" e dela emergeria "uma raça abençoada de heróis e superhomens" (12). Este foi o ideal nazista e hoje é o ideal apregoado, paradoxalmente sem qualquer censura -ao mesmo tempo que só o nazismo continua a ser denunciado e perseguido- pela já citada bioengenharia.

Entre os membros da Royal Society inglesa, a nata científica de então, Robert Boyle censurou severamente "a veneração que os homens habitualmente têm em relação aquilo que chamam de natureza", pois isto "obstruiu e limitou o império do homem sobre as criaturas inferiores". Ele propôs que "em vez de se usar a palavra natureza, que se tomava por uma deusa ou por uma espécie de semidivindade, nós a rejeitássemos de todo" .

É Sheldrake que esclarece: "Em retrospecto, podemos ver que ele [Bacon] estava errado. Pense, por exemplo, na atual devastação da floresta amazônica, que se tornou possível graças à tecnologia e à fé baconiana no direito do homem dominar a natureza. Uma sadia razão e uma verdadeira religião não estão hoje em evidência em lugar algum, e nada poderia hoje estar mais distante de nós do que o inocente exercício do direito, concedido ao homem por deus, de dar nomes às criaturas. Espécies incontáveis dessas criaturas estão sendo exterminadas, espécies que não chegam sequer a receber um nome, e que desaparecem desconhecidas."

Não é à toa que Bacon, em seu livro New Atlantis, de 1624, descreveu uma utopia tecnocrata na qual um sacerdócio científico tomava decisões para o bem do estado como um todo, e também decidia quais segredos da natureza deveriam permanecer secretos. O instituto de pesquisa de Francis Bacon chamava-se nada mais nada menos do que Casa de Salomão. Uma clara referência ao Selo de Salomão, presente no yantra de Sri Aurobindo -o triângulo para baixo cruzado com o triângulo para cima-, que significa alquimicamente a grande síntese ao nível da alma, pois nele os quatro elementos da natureza são reduzidos por processos anímicos de contração para apenas dois: o fogo (o ascendente) e a água (o descendente). O Selo é a grafia da comunhão e da transmutação dos elementos envolvidos, de maneira que sua água se torna sólida e seu fogo não queima, onde um elemento abraça o outro.

A Grécia Animista, o Homem Verde e o Sol no Centro

É igualmente esclarecedor sabermos que se nas culturas antigas as cosmologias eram admitidas sem discussão, na antiga Grécia, pela primeira vez na Europa, os filósofos elaboraram uma sofisticada concepção da natureza na qual todos complexos aspectos da vida foram minuciosamente discutidos. Nossos antepassados foram os herdeiros desta concepção centrada no animismo. Para eles, a natureza era viva pois apresentava movimento incessante e regular, e por isso inteligente como um animal (palavra que deriva do latim anima, alma) imenso dotado de alma e racionalidade própria. Foi neste terreno sólido que a Idade Média desenvolveu as fantásticas catedrais góticas, nas quais há "colunas e abóbodas que lembram bosques sagrados, onde a vegetação irrompe por toda parte. Diabinhos, gárgulas, demônios, dragões e animais surgem em profusão; acima deles voam anjos. Repetidas vezes, aparece a misteriosa figura do Homem Verde, uma cabeça entrelaçada com vegetação, de cuja boca, às vezes feita de folhas, brotam galhos" .

Prossegue Sheldrake:"A filosofia ortodoxa da natureza, ensinada nas escolas das catedrais e nas universidades, era animista; todas as criaturas vivas tinham alma. A alma não estava dentro do corpo; ao contrário, era o corpo que estava dentro da alma, e esta permeava todas as partes do corpo. (...) O intelecto humano não era separado das almas animal e vegetal; em vez disso, a mente racional estava ligada aos aspectos animal e corporal da mesma alma, que eram geralmente inconscientes. Em outras palavras, a alma humana incluía tanto a vida do corpo, os sentidos, as atividades corpóreas e os instintos animais" .

"A revolução copernicana na astronomia, longe de destruir a antiga idéia de organismo cósmico, foi, na verdade, nela inspirada. Quando Copérnico propôs que o Sol, e não a Terra, era o centro do cosmos, ele assim o fez tanto pelo fato de a ordem geométrica das esferas parecer mais harmoniosa como em sua reverência mística pelo sol: "Quem, no nosso templo mais belo, poderia colocar esta luz num outro lugar, ou num lugar melhor do que aquele a partir do qual ele possa, de imediato, iluminar o mundo? Isso para não falar do fato de que alguns a chamam, adequadamente, de a luz do mundo, ou-tros a chamam de a alma, outros ainda de a governadora" (13).

Copérnico, com o apoio de Kepler, um dos principais astrólogos de sua época, para quem também o Sol estava no centro, abriu o organismo cósmico na medida em que compreendeu que o cosmos não é um lugar fechado ao redor de um centro, mas infinito em todas as direções. Foi esta abertura que permitiu com seu desdobramento a substituição do modelo de cosmos vivo pelo modelo mecanicista, no qual o universo passa a ser visto como uma máquina, desprovido de espontaneidade, liberdade, criatividade, atado indefinidamente às "matemáticas leis de Deus".

A vitória desta visão se consolidou com René Descartes. Na França, em 1619, precisamente em 10 de novembro, ele, cujo nome marcaria o paradigma que está aí até hoje dominando -o paradigma cartesiano-mecanicista- concebeu os alicerces de uma nova ciência, que acreditava -pasmem- ter sido inspirada pela Mãe de Deus, pela qual três anos depois cumpriu a promessa de peregrinar até o santuário de Nossa Senhora de Loreto.

Descartes e a "Eliminação" da Alma

Descartes eliminou as almas da totalidade do mundo natural; toda a natureza passou a ser, no nível desta consciência limitada, inanimada, desprovida de alma, morta em vez de viva como ela é. Não é à toa a crise que vivemos. Mas isto não foi suficiente. A própria alma também foi retirada do corpo humano. Que se transformou então em mais um autômato mecânico, uma máquina como tantas outras. Apenas a alma racional, a mente permaneceu, alojada numa pequena região do cérebro: a glândula pineal. O que é muito interessante, pois desde aquela época até hoje a razão deslocou-se duas polegadas em direção ao córtex cerebral.

A assustadora idéia continua a mesma: para Descartes -e quantas vezes vemos as pessoas e a mídia dizendo a mesma coisa ainda hoje- havia uma espécie de "homenzinho controlador", a alma racional, que de dentro do cérebro controla a maquinária do corpo. E através dele controla todo o mundo. "Adeus" à Mãe Natureza. Ã origem. Não pode haver ataque mais frontal à essência das tradições antigas da humanidade e de todo o corpo de suas medicinas, por exemplo, e às conclusões da ciência de ponta contemporânea, do que este.

A barbaridade foi instalada de tal maneira, sob este signo então "científico" da natureza morta, que os seguidores de Descartes afirmavam enfaticamente que os animais não sentem dor, e que o som de cachorro sendo espancado é tão morto quanto o som que sai de um orgão... Rupert Sheldrake lembra-nos que esta maneira de ver o mundo foi criticada desde que apareceu, como a reação dos vitalistas no século XVII no campo da botânica e da zoologia. Foi a partir da década de 20 deste século que a teoria mecanicista conquistou a sua atual supremacia no ambiente da biologia acadêmica, e hoje os cientistas se julgam mentes desencarnadas, totalmente impessoais, destituídos de emoção: "Ninguém jamais é visto fazendo algo; métodos são seguidos, fenômenos são observados e medições são feitas, de preferência com instrumentos. Tudo é relatado na voz passiva. Até mesmo as crianças aprendem esse estilo e o praticam em seus cadernos de laboratório": um tubo de ensaio foi apanhado..." (14).

No entanto, na vida real, os cientistas vivem em meio à lutas traiçoeiras por verbas, à espionagem industrial, à fraude científica, à manipulação da opinião pública. Este é o caso, por exemplo, da indústria de cigarro. Sempre souberam do câncer da estupidez mas até o fim negaram de pés juntos. Como se sabe, mesmo Isaac Newton sucumbiu ao ego e à disputa por prestígio e propriedade tendo passado anos discutindo com Gottfried Leibniz a respeito de qual dos dois foi o primeiro a inventar o cálculo infinitesimal.

Ignorando tudo que não possa ser quantificado, Descartes forneceu a base filosófica para o ideal de desprendimento científico, ou seja, o desligamento da ciência em relação ao mundo vivo, a tudo que tem sentimento, som, odor, cor, surpresa, sutileza, classificadas como qualidades secundárias, pois "meramente subjetivas", que enquanto parcela da experiência corpórea não existem no mundo matemático objetivo, cognoscível por uma mente desencarnada. Foram os sucessos práticos deste tipo de ciência que lhe deram o prestígio vigente até hoje, pois realmente é uma via parcial de conhecimento (uma via que permite ao ocidental uma experiência parecida, dentro das devidas proporções, ao poderes quase mágicos desenvolvidos pelos yoguis e que os mestres dizem pouco ou nada valer na direção da verdadeira sabedoria). Entendida então como modelo de verdade absoluta, a ciência mecanicista estabeleceu este método, graças à física, como o modelo de desprendimento científico desejado por todas as áreas do saber inte-ressadas na "objetividade". É por isto que a economia consegue ser tão desumana e cruel, por exemplo. E que um sociólogo possa ser uma pessoa completamente desligada e contrária aos verdadeiros anseios e interesses da sociedade. E que um médico deixe a pessoa morrer por ela não ter dinheiro.

Sheldrake cita a exploração do velho Oeste americano como a aplicação exemplar deste modelo. Na década de 1860, com as estradas de ferro, precisou-se de carne e couro e os búfalos começaram a ser abatidos, até mesmo por mero "prazer". Para se ter uma idéia, apenas em dois anos, de 1872 a 1874, foram caçados mais de três milhões de búfalos. Em 1880, ou seja, seis anos após, não existiam mais búfalos, a não ser cerca de mil em reservas no final do século, que no início, pelos próprios cálculos mecanicistas, deveriam ser de trinta a quarenta milhões. Mas os índios não sofreram menos, como sabemos. Os índios das planícies foram os últimos a serem exterminados, sob o comando do general William Tecumseh Sherman, que na mesma década de 1860 traçou o seguinte plano em carta ao irmão: "Quanto mais pudermos matar neste ano, menos terão que ser mortos na próxima guerra, porque quanto mais desses índios eu vejo, mais convencido fico de que todos têm que ser mortos ou mantidos como uma espécie de indigentes. Seus atentados à civilização são simplesmente ridículos".

Agora temos uma visão clara de como a Mãe Natureza foi profanada. Aí está a origem e a história do enraizamento desta concepção de mundo, desta filosofia. Que aparece claramente no discurso da mídia, pois ela trabalha é com a linguagem das tradições, apondo aos produtos e aos serviços que quer vender os valores profundos da vida -da Mãe Natureza- revelados pelas tradições espirituais da humanidade. E confirmados por uma determinada e avançada ciência. Amor, confiança, bem estar, amizade, beleza, cooperação (15)...

Se continuamos a necessitar destes valores universais (16), e por isto profundos, não é melhor que os procuremos na sua verdadeira fonte? É por isto que a Mãe Natureza está de braços abertos. Para nos prover, nos consolar, nos abrigar, nos alimentar, nos fortificar, nos fazer nascer, nos transformar. Este abraço tão total -Unidade Sagrada- do qual sempre lembramos quando abraçamos as pessoas amadas.



Notas

* O uso da expressão Unidade Sagrada é uma referência ao grande Gregory Bateson e seu livro Una Unidad Sagrada, pasos ulteriores hacia una ecología de la mente. Editorial Gedisa, Barcelona, Espanha, 1993. Ele termina esta obra afirmando, -com o qual concordo plenamente e meu trabalho é uma contribuição para esta ecologia da mente- que “la monstruosa patología atomista en el nivel individual, en el nivel de familia, en el nivel nacional y en el nivel internacional –la patologia de las ideas erróneas en la cual vivimos- únicamente puede, en última instancia, corregirse en virtud de un enorme descubrimiento de esas relaciones que en la naturaleza hacen la belleza de la naturaleza” (op.cit., p. 303). Este artigo foi originalmente escrito para a mesa Os Imperativos Ecológicos e a Mobilização da Sociedade, que coordenei dentro do Ciclo Preparatório da Assembléia Global da United Religions Initiative 2002 (www.uri.org/rio2002), da qual fui o consultor de conteúdo e articulação.

(1) Ao avaliar o cumprimento dos compromissos firmados na ECO-92, os grandes fóruns governamentais e não-governamentais Rio+5 e Rio+10 (este último realizou-se em Johanesburgo exatamente a partir do dia seguinte do encerramento da Assembléia Global da URI no Rio de Janeiro em agosto de 202) pouco teve a comemorar.

(2) Ver o artigo A Voz Indígena, que fiz para a mesa-redonda de mesmo nome e publicado no site http://brazil-brasil.com/content/view/127/ e em vários outros.

(3) Recomendo fortemente a leitura de O Renascimento da Natureza -o reflorescimento da ciência e de Deus, de Rupert
Sheldrake, Cultrix, 1997.

(4) Grof, Stanislav. Psicologia do Futuro. Lições das Pesquisas Modernas de Consciência. Heresis, Niterói, 2000. p.29.

(5) Weil, Pierre. A Neurose do Paraíso Perdido. Cepa, Rio de Janeiro, 1987. p.34.
Sheldrake (op.cit.), p.29.

(6) Campbell, Joseph. O Poder do Mito. Palas Athena, SP, 1990. p.177.

(7) De acordo com Gheerbrant&Chevalier (Dictionaire des Symboles, Robert Laffont/Jupiter, Paris,1988), Hécate possui os dois aspectos da Mãe Natureza. Fertilidade, germinação, proteção da navegação e da pesca, prosperidade, eloquência, vitória, purificação; e ao mesmo tempo é a deusa dos espectros e dos terrores noturnos, dos fantasmas e dos monstros aterradores, mestra em feitiçaria. Nêmesis está associada à agricultura e dela depende a fertilidade ou não da Terra e consequentemente a sobrevivência humana. E Kali é a deusa do hinduísmo que destrói as ilusões. Ela dança sobre Shiva, o deus da Consciência, quando ele dorme, ou seja, quando a inconsciência está ativa e do seu corpo surge outro corpo igual, Shava, em sânscrito exatamente inconsciência.

(8) Sheldrake (op.cit.), p.30.

(9) Sheldrake (op.cit.), p.50.

(10) Idem, p.53.

(11) Idem, p.54.

(12) Idem, p.56.

(13) Ib., p.57-58.

(14) Idem, p.63.

(15) Para o melhor entendimento desta questão da ascenção contemporânea da demanda das qualidades da Mãe é absolutamente vital o estudo da obra dos biólogos Maturana e Varela

(16) Ver o Programa de Educação em Valores Universais da Associação Palas Athena, por exemplo através do artigo ROIZMAN, Laura Gorresio. Valores que não têm preço. In OURIQUES, Evandro Vieira (org.). Diálogo entre as Civilizações: a Experiência Brasileira. ONU. 2003. pp 181-189.